sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sérgio Vieira prendeu Joaquim Chissano quando Samora Machel governava

Como consequência das maquinações de Vieira, Chissano foi levado para a Ilha da Xefina tendo aí sido interrogado por Lagos Lidimo, refere o autor da biografia de Massinga. Na cadeia de máxima de segurança, vulgo BO (Brigada de Operações), na Machava, reduto do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular), Massinga foi “torturado, chamboqueado e electrocutado” por Sérgio Vieira, afirma também o autor da obra publicada na internet, Solomon Mondlane, moçambicano nascido em Chinonanquila, Província de Maputo

ncontra-se disponível na Internet um livro sobre a vida e obra do Dr. José Chicuarra Massinga, ex-funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros que chegou a estar preso durante a era da ditadura em Moçambique. O livro é da autoria de Solomon Mondlane, moçambicano nascido em Chinonanquila, Província de Maputo.

O autor conta a vida de Massinga desde a sua infância na aldeia de Guma, Inhambane, como estudante nos Estados Unidos e na Europa, e, depois da independência, como quadro superior do ministério dos Negócios Estrangeiros tutelado então por Joaquim Chissano.

Um incontornável aspecto da vida de Massinga foi a sua prisão em 1981 por ordens do sector da segurança do regime da Frelimo, por alegado, e nunca provado, envolvimento com a CIA. Lê-se na biografia que José Massinga foi sumariamente detido no seu gabinete de trabalho e enviado para a cadeia de máxima de segurança, vulgo BO (Brigada de Operações), na Machava. Neste reduto do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular), hoje designado por SISE, Massinga foi “torturado, chamboqueado e electrocutado” por Sérgio Vieira, afirma o autor. Acrescenta Massinga, citado pelo autor de «The Life and Walks of Dr. José C. Massinga» : “Não conseguia andar pois as minhas nádegas estavam doridas. O espancamento era uma actividade quotidiana.

A minha roupa estava esfarrapada e eu sangrava profusamente.” Voltando a referir-se a Sérgio Vieira, o biografado conta que “um dia, Vieira e os seus amigos dirigiram-se à prisão onde nos encontrávamos. Ele aproximou-se de mim, puxou-me pelas orelhas e pôs-se a fazer troça da minha pessoa.”

O Dr. José Massinga seria restituído à liberdade em 1985. Sorte idêntica não coube a outros que, tal como Massinga, haviam sido presos em 1981 sob as mesmas alegações. Fernandes Baptista e Jossias Dhlakama, por exemplo, seriam assassinados por ordens do Departamento de Segurança da Frelimo, enquanto a máquina de propaganda do regime espalhava a notícia que as duas vítimas haviam conseguido fugir da cadeia, indo ao extremo de “apelar à vigilância dos cidadãos para que neutralizasse os evadidos e os denunciasse às autoridades”.

O mesmo Sérgio Vieira, segundo narra o autor de «The Life and Walks of Dr. José C. Massinga», foi quem engendrou a prisão de Joaquim Chissano durante o regime de Samora Machel, sob a alegação de que “colaborava com os imperialistas”.

Diz o autor: “Sérgio Vieira propalou mentiras a respeito de Chissano quando este se encontrava no estrangeiro. Vieira disse a Samora Machel que Chissano colaborava com os imperialistas”. Acrescenta o autor:

“Ao regressar da visita que havia efectuado ao estrangeiro, Chissano foi preso. Posteriormente foi convocado pelo presidente, juntamente com Vieira. O presidente disse a Vieira que repetisse exactamente o que lhe havia contado sobre Chissano, mas não pôde fazê-lo e por isso é que Chissano se salvou. O que Vieira disse a respeito de Chissano eram puras mentiras. Sei que Vieira queria ser ministro dos negócios estrangeiros, mas isso não era possível dado que Samora Machel confiava em Chissano, com quem havia trabalhado desde o tempo da luta, tendo-o como homem de confiança.”
Como consequência das maquinações de Vieira, Chissano foi levado para a Ilha da Xefina tendo aí sido interrogado por Lagos Lidimo, o “cunhado” do ministro dos negócios estrangeiros, por este ser casado com uma maconde, etnia a que pertence Lidimo.

Com a subida de Joaquim Chissano ao poder em Novembro de 1986, Sérgio Vieira viria a ser demitido das suas funções poucas semanas depois. Afastado do Ministério da Segurança-SNASP, Vieira passou a desempenhar o cargo de director do Centro de Estudos Africano de onde veio a sair pouco tempo depois, ao que consta sob pressão de doadores nórdicos.

Para além de «The Life and Walks of Dr. José C. Massinga», Solomon Mondlane é autor de uma biografia do primeiro chefe de Estado moçambicano intitulada, «A Clown in a President». Ambos os livros encontram-se disponíveis na Internet em http://josemassinga.blogspot.com

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